Por Keynes Aynaud
As calçadas estão silenciosas;
As empresas estão matutando e contando carneiros;
Os trabalhadores estão contando carneirinhos;
O céu se fecha para deixar a escuridão reinar.
Andar sob essa chuva luar,
Abraçar o ar frio,
E esquecer um pouco da civilização,
Como eu desejo isso!
“Ideias boas só veem na escuridão”, diz os postes,
Não querendo funcionar,
Mas funcionam.
Pobre postes…
Existe algo pior do que ter uma luz
Apagando a sua escuridão?
Luz era sinônimo de ideias.
Era.
Com os garotos gritantes,
Com os carros indo para lá e para cá,
Com as bancas,
Com o telefone,
Com a internet,
Luz é apenas uma decoração.
Como uma prostituta, temo dizer; ela mostra o que quer, mas não que deveria.
Deveria no sentido de respeitar a verdade,
E não “mostrar” a fechadura.
Fechadura se tem de monte,
Graças aos garotos gritantes,
Com os carros indo para lá e para cá e
Blá Blá Blá…
As chaves?
Tem fábricas.
Coisas boas sempre é atraente para o seu reverso.
Interessante ver o casaco trocar de dono o tempo inteiro…
O que estou fazendo?
Quero falar da noite,
E não de portas.
Esqueça…
A noite abre a mente
– Até que demais, aliás –
Ao espectador.
A lua é bonita e radiante.
O que seria da lua sem o sol?
O que seria da lâmpada sem a falta de iluminação?
O que seria da sabedoria sem a ignorância?
Enfeites e mais enfeites para o piscar das últimas luzes do homem.
Nem ele é perfeito: sem luz, sem visão.
E aqui estou enrolando,
De novo.
Tudo bem.
Eu posso escrever e olhar para a lua o tempo inteiro.
Se eu e os meus pertences não forem injuriado fisicamente, claro.
Sem vida, sem sentido.
O frio,
Vocês sentem, postes?
A Solidão,
Vocês a conhecem?
Eu conheço.
Eu conheço…
Só o estudo e a noite me dão uma companhia;
É estranho estar me abrindo para objetos e materiais,
Mas eu sempre gostei deles.
É só olhar para o prazo de validade e pronto,
Sem desconfiança excessiva.
Aqui, eu, nesse banco,
Respirando e falando,
O tempo está parado,
Só para acariciar um pobre homem
Que ainda não achou alguma coisa que me torna feliz.
As luzes deveriam ser uma solução.
Deveriam.
Mas não são.
Estou perdido nesse mar de escuridão, e só andando eu vou encontrar a minha casa.
Estou sentimental hoje,
Isso é bom.
Ainda sou um homem com arrependimentos nas costas que insiste em andar.
Se morrer hoje, morro com orgulho.
Andarilhando nesse mar oculto,
Eu enxugo o meu suor,
Para o encontro de um novo amanhã.
Lá está o alto,
O sem pudor
Estrada, aterrorizando o café dá manhã.
Prato frio ou quente,
Café morto ou vivo,
Luzes ligadas ou não,
Não posso parar.
O medo frequente
Das ruas nunca corroerá o vivo
Desse corpo. Não,
Não posso parar…
Postes,
Ainda estão acesas?
Ah sim, estão ligadas no que escrevo
Ou ligadas ao que foram programadas?
Me pergunto se algum dia saberei.
Mas também me pergunto se vale a pena saber.